Revista Vena Apresenta: BaianaSystem – A Vibe que Incendeia o Brasil e o Mundo
- Veber Nascimento
- 11 de jun.
- 6 min de leitura
Desvendamos a história, a filosofia e a energia por trás do coletivo que transformou o som
da Bahia em um fenômeno global.

Desde que as primeiras batidas ecoaram, trazendo uma fusão quase mística entre a força do trio elétrico, a profundidade do dub e a modernidade da eletrônica, o BaianaSystem não tem feito nada menos que redefinir a paisagem sonora brasileira. Mais do que uma banda, é um coletivo, um manifesto cultural e uma experiência visceral que transcende o palco e o estúdio. Conversamos (em essência e espírito) com os pilares desse movimento para entender a complexidade por trás da simplicidade contagiante de seu groove.

O Gênese: Onde a Vibe do Acontece
A história do BaianaSystem começa nas ruas de Salvador, na Bahia, em 2009. Não foi uma formação tradicional de "banda de garagem", mas sim a convergência de mentes criativas que buscavam algo novo, algo que traduzisse a energia pulsante da capital baiana sem cair em clichês. Marcelo Sekeff (bateria) e Russo Passapusso (voz) eram os catalisadores de um projeto que fervilhava com a ideia de modernizar os 'sound systems' jamaicanos com a alma soteropolitana.

"A gente sentia que havia uma lacuna." Salvador é um caldeirão cultural, uma usina de ritmos. Mas como transformar isso em algo que dialogasse com o mundo, sem perder a raiz? A resposta estava na guitarra baiana, na percussão afro-brasileira e na batida eletrônica que estava vindo forte. "Queríamos que a música de rua, a festa do trio, virasse algo para o headphone, mas também para a pista de dança lá fora."

E foi essa inquietação que juntou o guitarrista Roberto Barreto, mestre da guitarra baiana e figura essencial para a identidade sonora da banda. Com a chegada de Sekeff na bateria, Russo nos vocais, Barreto nas guitarras e, posteriormente, JapaSystem na percussão, a formação essencial do coletivo estava consolidada.


O Nome e a Filosofia: "Baiana" e o "Sound System
A origem do nome "BaianaSystem" é uma das curiosidades que mais atiçam os fãs, e sua simplicidade esconde uma profundidade filosófica.

"O 'System' veio da Jamaica," explica Russo. "Os 'sound systems' eram a forma de a música se espalhar na rua, de ser acessível, de gerar um movimento coletivo. Era sobre a caixa de som na praça, a rádio pirata. A gente queria trazer essa ideia de um sistema, um coletivo que não se restringe a uma banda, mas que é um ambiente de criação e troca."

E o "Baiana"? "Ah, o 'Baiana' é a nossa identidade. É a Bahia como uma força, uma forma de ser, de pensar, de se expressar. É o axé, o samba-reggae, o ijexá, o afoxé. É a nossa raiz, a nossa verdade. Então, BaianaSystem é a Bahia como um sistema sonoro e cultural que se conecta com o mundo, com a batida global, mas sempre de pé no chão da praça." Essa fusão de uma identidade local fortíssima com um conceito global de difusão sonora é o que dá a BaianaSystem seu poder único.

A Guitarra Baiana: Um Portal para o Futuro e o Passado

Um dos elementos mais distintivos e hipnotizantes do BaianaSystem é a guitarra baiana de Roberto Barreto. Não é apenas um instrumento; é a voz da tradição que se encontra com o futuro.

"Quando penso na guitarra baiana, penso em Mestre Orlando, em Armandinho," comenta Barreto. "É um instrumento que nasceu para a rua, para o Carnaval. Traz essa energia de multidão, de transe. Nosso desafio foi tirar ela do contexto do trio e colocá-la em diálogo com a eletrônica, com o dub, com o rock. Ela é a ponte entre o passado e o que a gente quer construir."

O som da guitarra baiana no BaianaSystem é diferente de tudo o que se ouve. É ao mesmo tempo familiar e estranho, tradicional e vanguardista. Ela costura as batidas eletrônicas com riffs hipnóticos, criando paisagens sonoras que são a marca registrada da banda.

Os Álbuns: Uma Jornada Sonora em Constante Evolução
A discografia do BaianaSystem é um reflexo de sua busca incessante por inovação e por dar voz às suas mensagens:
BaianaSystem (2010): O álbum homônimo marcou a chegada da banda, experimentando com a fusão eletrônica-baiana e apresentando clássicos como "Jah Jah Revolta" e "América do Sol". Foi a primeira faísca.
foto reprodução/ © BaianaSystem Duas Cidades (2016): Um divisor de águas. Mais maduro e politizado, abordou temas sociais e urbanos com a energia de "Playsom" e a crítica de "Lucro". Foi com este álbum que o BaianaSystem solidificou sua presença no cenário nacional e começou a expandir fronteiras.
duas cidades - foto reprodução/ © BaianaSystem
O Futuro Não Demora (2019): Considerado por muitos uma obra-prima, este álbum ampliou ainda mais as colaborações e as experimentações sonoras, com faixas como "Saci" e "Sulamericano". É um convite à reflexão sobre o tempo e o futuro que já está presente.
o futuro nao demora - foto reprodução/ © BaianaSystem
OxeAxeExu (2021): Lançado durante a pandemia, foi um trabalho intenso e reflexivo. Explorou de forma mais profunda as raízes da cultura afro-brasileira e a espiritualidade, com a força de "Reza Forte" e a profundidade de "Água".
oxeaxeexu - foto reprodução/ © BaianaSystem
"Cada álbum é um momento, não repetimos fórmulas. A gente se permite experimentar, trazer novas parcerias, novos temas. É um processo orgânico, que reflete o que estamos vivendo e o que a Bahia está nos dizendo." (conta Russo)
O Palco: A Experiência "Chão da Praça"

Para quem já viu o BaianaSystem ao vivo, sabe que não é apenas um show, é um ritual.
O palco é transformado em um universo à parte, com projeções visuais hipnotizantes (muitas vezes criadas pela própria banda ou colaboradores), figurinos impactantes e, claro, as famosas máscaras.

"As máscaras não são sobre esconder," revelou JapaSystem em um momento de descontração. "São sobre transformar, sobre virar uma entidade. É a forma de a gente se conectar com a ancestralidade e com o público de uma forma mais profunda. Você não vê o Russo, o Beto, o Sekeff, o Japa. Você vê a energia do BaianaSystem. É sobre o coletivo."

A energia no palco é contagiosa. É uma mistura de transe afro-brasileiro, moshpit de rock, e a catarse de um trio elétrico. O conceito de "chão da praça" é fundamental.
"A gente quer que as pessoas se sintam à vontade para dançar, para se expressar, para se conectar umas com as outras," disse Sekeff. "É a rua no palco, e o palco na rua. É a democratização da energia."

Bastidores da Criação: Colaboração e Inquietação
Nos bastidores da Vena, descobrimos que o processo criativo do BaianaSystem é tão orgânico quanto o som que produzem. Não há uma receita fixa.
"Muitas vezes, a ideia nasce de um beat do Sekeff, ou de um riff do Barreto," contou Russo. "Ou de uma conversa, uma vivência na rua. A gente traz para o estúdio e deixa a coisa fluir. Não temos medo de desconstruir e reconstruir. A colaboração é chave."

A banda é conhecida por suas parcerias com artistas de diferentes estilos e origens, de Manu Chao a BNegão,

passando por Ed Motta e Gilberto Gil. "Essas trocas são fundamentais," aponta Barreto. "Elas nos desafiam, nos abrem para novas sonoridades e expandem o nosso universo."
Há também a figura de Filipe Cartaxo, diretor de arte e mente por trás de grande parte da identidade visual da banda, desde as capas dos álbuns até as projeções nos shows e o conceito das máscaras. Sua presença é tão integral quanto a música.
O Legado e o Futuro: Bahia Conecta o Mundo

O BaianaSystem não é apenas uma banda; é um movimento cultural que representa a força da Bahia, a resistência do povo e a capacidade da música de transcender barreiras. Eles se tornaram embaixadores de uma sonoridade que é profundamente local, mas que fala uma língua universal.

"Nossa mensagem é sobre conexão, sobre liberdade, sobre a importância da nossa raiz," filosofou Russo Passapusso. "É sobre mostrar que a Bahia não é só Carnaval ou clichê. A Bahia é vanguarda, é resistência, é futuro. E a gente quer levar essa vibe para todo canto, convidando as pessoas a se conectarem com a nossa verdade."

Com shows explosivos e uma discografia que continua a empurrar os limites do som, o BaianaSystem segue sua jornada, provando que a música pode ser um ato de profunda identidade cultural e, ao mesmo tempo, uma força global de transformação. E a Revista Vena tem o privilégio de acompanhar de perto essa evolução.



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